quarta-feira, 20 de junho de 2012

Nas cavernas do Danúbio (Alemanha), as primeiras notas musicais



Fonte:  O POVO online, Blog.gpme.org.br
Nos últimos anos, arqueólogos descobriram no sudoeste alemão os primeiros resquícios de arte e música deixados pelos humanos modernos que migraram da África para a Europa. Agora, novos estudos revelam que os mais antigos instrumentos musicais do mundo —flautas feitas de ossos de aves e marfim de mamute— são  mais velhos do que se pensava.
A equipe de Thomas Higham, da Universidade de Oxford, divulgou em maio o aprimoramento dos testes de radiocarbono, o que permitiu datar os ossos das flautas em 42 a 43 mil anos. A idade coincide com a época em que os primeiros humanos de anatomia moderna se espalhavam pela Europa Central, presumivelmente ao longo do vale do Danúbio.
Os testes anteriores apontavam uma idade de 35 mil anos para as flautas, assim como outros artefatos encontrados em cavernas perto de Ulm (Alemanha) e nas cabeceiras do Danúbio, como  estatuetas de marfim de mulheres voluptuosas. A flauta de osso mais bem preservada, com cinco furos para os dedos, foi recolhida na caverna de Hohle Fels. A nova análise com radiocarbono se baseou em um  material  recolhido na caverna Geissenklösterle.
Diante dos primeiros relatos sobre a flauta de 35 mil anos, alguns acadêmicos demoraram para rever suas avaliações sobre as mudanças culturais decorrentes da chegada dos humanos modernos, que substituiriam os neandertais nativos, 30 mil anos atrás. Isso porque datações por radiocarbono anteriores a 30 mil anos podem não ser confiáveis.
No entanto, Nicholas Conard, arqueólogo da Universidade de Tübingen, na Alemanha, um dos autores do estudo, diz que as novas descobertas são “consistentes com a ampla gama de inovações vindas do Alto Danúbio”.
Após a descoberta de vários pedaços de flautas, amostras de arte figurativa e notáveis decorações nas cavernas, Conard disse que as novas datas amparam a tese de que o Danúbio foi “um importante corredor de migrações humanas e transmissões tecnológicas rumo à Europa Central entre 40 mil e 45 mil anos atrás”.
Segundo as pesquisas feitas por Higham, os ossos submetidos à datação foram enterrados nas mesmas camadas de terreno que as flautas da caverna de Geissenklösterle. Eles foram tratados contra contaminações por uma ultrafiltração avançada.
Os resultados, escreveram os pesquisadores, “implicam que as datas anteriores se deveram a uma descontaminação insuficiente do colágeno ósseo”.
Se as novas datas estiverem corretas, dizem os cientistas, os humanos modernos passaram pela região do Alto Danúbio —fazendo música— antes da Era do Gelo, há 39 mil anos.
Na cronologia baseada nas datas mais recentes para as flautas, supunha-se que eles tivessem esperado o clima melhorar antes de percorrer o Danúbio.
Por JOHN NOBLE WILFORD

Professor da UFLA publica em revista do grupo Nature



A presença de microcristais nas asas de um pequeno inseto encontrado em caverna brasileira tem o ineditismo destacado em artigo de coautoria do professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA) Rodrigo Lopes Ferreira (DBI/UFLA), recém-publicada no periódico Scientific Report do grupo Nature, uma das publicações de maior impacto científico do mundo.  
O artigo foi elaborado em conjunto com pesquisadores da Suíça e é resultado de estudos desenvolvidos no âmbito do projeto “Diversidade de Invertebrados Subterrâneos na Caatinga Brasileira”, coordenado pela UFLA com o auxílio do CNPq.
De acordo com o professor, fenômeno semelhante nunca havia sido descrito para artrópodes terrestres, o que tem garantido ao artigo grande visibilidade e também projeção para futuras pesquisas e parcerias internacionais. Para ele, o fenômeno tem sido analisado sob a tese da variação microclimática da caverna, que é rica em guano (fezes de morcegos).

O inseto, que apresenta camada diferenciada de microcristais que confere à asa a cor preta, foi encontrado em uma caverna no norte da Bahia. O artigo foi escrito em parceria com pesquisadores do Museu de Genebra (Suíça), que conseguiram complementar as análises realizadas na UFLA, especificamente no Laboratório de Ecologia Subterrânea – Setor de Zoologia do Departamento de Biologia.
O professor Rodrigo Ferreira participa do programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada. Também é coordenador de outro projeto aprovado no CNPq com relação à temática, que inclui um tratado de cooperação bilateral com pesquisadores da Eslovênia para a comparação de fauna subterrânea.
Os estudos na UFLA têm sido responsáveis por quebrar paradigmas, demonstrando que a região neotropical possui muito mais espécies cavernícolas do que era teorizado. Novas espécies são rotineiramente descritas pela equipe do professor Rodrigo, com a participação de estudantes desde a Iniciação Científica.

domingo, 3 de junho de 2012

SBE Notícias nº 228 - 01/06/2012









Esta edição traz as seguintes matérias:
- Workshop fundamentos para legislação espeleológica;
- Cooperação técnica lança sua carta de princípios;
- Livro aborda a trajetória de Peter Wilhelm Lund;
- SBE programa expedição para Tocantins e Goiás;
- Abertas inscrições para o curso de espeleoresgate 2012;
- A excepcional cavernas das Mãos em Rurópolis PA;
- Rachaduras em cavernas de Montes Claros após tremores;
- Patrimônio espeleológico fluminense é tema de palestra;
- Atuação conjunta do MPMG e MPF impede danos a cavernas;
- Produtos utilizados na gruta de Lascaux para eliminar fungos tiveram efeito contrário;
- Descoberto instrumento musical mais antigo do mundo;
- Mostra internacional de filmes de montanha;
- Foto do leitor: Caverna do Clube de Campo de Valinhos (SP).

O boletim é editado em formato PDF e pode ser baixado clicando no link:

sábado, 2 de junho de 2012

Espeleólogos descobrem novas rachaduras em cavernas de Montes Claros depois dos tremores


Espeleólogos descobriram novas rachaduras em cavernas, em Montes Claros. Blocos de rocha teriam se soltado depois dos tremores registrados na cidade. Um perigo para quem pratica o montanhismo. Para avaliar as possíveis causas e a intensidade dos abalos, oito sismógrafos começaram a ser instalados no fim de semana.

Três equipamentos estão sendo montados por uma equipe da Universidade de São Paulo e ficarão por tempo indeterminado na cidade. Montes Claros despertou a atenção dos especialistas e engenheiros após os consecutivos tremores de terra. A região que até os últimos abalos não possuía nenhum sismógrafo, agora conta com oito aparelhos. Cinco vão ser disponibilizados pela Universidade de Brasília.
O primeiro deles, instalado em uma área isolada na região sul da cidade, vai exigir um levantamento contínuo de dados no local. O sistema permite uma transmissão de dados via satélite que possibilita o acesso a informação no momento em que o tremor acontece. Mas, segundo o engenheiro da USP, Luiz Gargalho, não é possível prever qualquer tipo de abalo sísmico.
Na região noroeste da cidade, esta equipe de espeleólogos estudam as consequências dos abalos no conjunto de cavernas da região. Na semana passada, o MG InterTV mostrou algumas formações que foram danificadas na gruta Lapa D’água, dentro do Parque Estadual da Lapa Grande. Algumas colunas, estalagmites e fragmentos de rocha se desprenderam do teto.
Acompanhamos o trabalho da equipe em uma avaliação feita nas cavernas do Pico do Urubu. Estudo feito no interior das formações rochosas, que segundo o espeleólogo Eduardo Gomes, é necessário.
Na região, muitos montanhistas aproveitam da beleza do local e das formações rochosas para praticar o esporte. Márcio Henrique Prates, montanhista, diz ter percebido as modificações e tem tomado os cuidados necessários.
Na semana passada, o governo do Estado confirmou que em andamento a compra dos equipamentos para a estação sismológica, que será montada na Unimontes. A previsão é que ela comece a funcionar ainda esse ano. Também foi anunciada uma parceria com um instituto japonês, para orientar a população sobre os cuidados em caso de tremores. Nesse caso, o trabalho não tem data para ser realizado.
Montes Claros registrou mais um tremor de terra.
Nesta segunda-feira às 12:28, foi registrado o sexto tremor de terra na cidade de Montes Claros. Segundo dados do Observatório Sismológico de Brasília esse tremor atingiu 2,1 graus na escala Richter.

Parque Nacional de Furna Feia deverá ser criado na próxima terça-feira – Unidade abriga o maior complexo de cavernas do Estado do Rio Grande do Norte


Após várias audiências, discussões e mobilizações de diversas categorias da sociedade, a presidenta Dilma Rousseff deverá assinar, na próxima terça-feira, 5, data em que se comemora o Dia Internacional do Meio Ambiente, o decreto de criação do Parque Nacional de Furna Feia, situado entre os municípios de Mossoró e Baraúna.
De acordo com o gerente de Gestão Ambiental de Mossoró, Mairton França, a criação oficial do Parque foi confirmada por representantes do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e do Ministério do Meio Ambiente. “Está na pauta da Casa Civil a assinatura dos decretos de criação de várias unidades nacionais de conservação federal, entre elas, a de Furna Feia. A própria ministra Isabela Teixeira citou a criação dos parques em reunião no Conselho Nacional de Meio Ambiente”, destaca.
Segundo Mairton França, para que o projeto de criação do Parque fosse encaminhado para a Casa Civil da Presidência da República, faltava apenas o parecer emitido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária no Rio Grande do Norte (Incra-RN) e pelo Ministério de Minas e Energia. “Esses eram os documentos que ainda precisavam ser enviados, e no mês passado, o Ministério emitiu o parecer, e em reunião ocorrida em Natal recentemente foi emitido pelo Incra o ofício em que o órgão concorda com a criação”, explica.
O Parque Nacional de Furna Feia está entre as primeiras unidades de conservação criadas pela presidente Dilma em sua gestão. No Rio Grande do Norte, há mais de 30 anos nenhuma unidade federal havia sido projetada. “Essa era uma reivindicação das próprias comunidades. Foi uma vitória conjunta, do poder público municipal de Mossoró, Baraúna e do Instituto Chico Mendes, que está de parabéns”, comemora Mairton França.
O gerente de Gestão Ambiental ainda destaca que, após a criação do Parque, será elaborado um plano de manejo, com a formação de um conselho gestor, que direcionará as ações executadas no Furna Feia. “A partir daí serão discutidas as necessidades de estruturação, e de como o Parque será utilizado, levando em consideração pontos como a inclusão dos nativos dessas regiões nas atividades que serão promovidas”, conta.
Unidade abriga o maior complexo de cavernas do Estado
O sítio espeleológico da Furna Feia é uma região de cavernas situada em uma área de mais de 10 mil hectares, sendo 50% de sua área situada em Mossoró, e os 50% restantes em Baraúna. A unidade abriga o maior complexo de cavernas do Estado. São mais de 200 cavidades encontradas até o momento. No espaço, foram detectadas cerca de 105 espécies de plantas, com destaque para a Aroeira do Sertão, árvore típica da caatinga e que está em extinção, e 135 espécies de animais, várias nas listas oficiais da fauna em extinção, como o gato vermelho. “No local, há também duas espécies de plantas Pau-Branco, sendo que uma é muito difícil de ser encontrada na região, e está em extinção”, complementa Mairton França.
Aproximadamente 40% da área para a instalação do Parque fazem parte da reserva legal do Projeto de Assentamento Rural Maisa, que tem 4.043 hectares, e é um dos maiores e mais importantes remanescentes de caatinga do Estado, com fauna e flora ainda bem preservadas e bastante representativas.
Os levantamentos apresentados pelo ICMBio sinalizam uma biodiversidade diversa, sendo 22 espécies endêmicas da caatinga; 23 espécies de mamíferos e 11 espécies de répteis. Por isso, a região é considerada uma das áreas prioritárias para ações de conservação da biodiversidade da fauna e flora da caatinga.
“Nosso principal objetivo é a conservação da unidade, por isso apenas três cavernas serão preparadas para a visitação, e a área não poderá ser utilizada para fins econômicos. Existe ainda um projeto do Governo do Estado que pretende incluir Furna Feia no roteiro de visitação turística para a Copa do Mundo de 2014, atendendo uma exigência da Fifa, que cobra a existência de áreas ambientais nas localidades que receberão o evento e turistas”, conclui Mairton França.

Justiça preserva cavernas em Minas


Liminar restringe exploração de jazidas nas proximidades de cavidades naturais em dois municípios




Caminhão de minério em Conceição do Mato Dentro, uma das cidades afetadas pela decisão (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Caminhão de minério em Conceição do Mato Dentro, uma das cidades afetadas pela decisão












Mais atenção e defesa para as cavernas e grutas de Minas, estado com cerca de 30% do patrimônio espeleológico do país. O Ministério Público Federal, em parceria com o Ministério Público estadual, obteve na Justiça Federal liminares para a proteção de importantes bens nacionais, informou ontem a procuradora da República Mirian Moreira Lima. As decisões foram proferidas pelo juiz da 20ª Vara Federal, em ação proposta no ano passado. Segundo a procuradora, o mesmo juiz havia negado anteriormente o pedido, sob argumamento de não ter sido demonstrada a urgência da medida.

Desta vez, com a reiteração do pedido diante de duas situações concretas, explicou a procuradora, o magistrado atendeu os requerimentos e proibiu o estado de Minas Gerais de conceder qualquer licença ou autorização ambiental relacionada às áreas onde estão localizadas duas cavernas, em Itabirito e Conceição do Mato Dentro, na Região Central. “Na prática, as decisões impedem a destruição dessas estruturas naturais por atividades de mineração. Conseguimos essa e conseguiremos outras liminares para proteger o patrimônio mineiro”, disse.

Em Itabirito, a 55 quilômetros de Belo Horizonte, a Superintendência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Supram) Central Metropolitana deu autorização para que a própria empresa mineradora decidisse o raio de proteção da caverna VL-47, situada na área do empreendimento. “Isso significa que o órgão ambiental delegou ao próprio empreendedor, interessado na exploração do minério, a definição do raio de proteção da cavidade. Obviamente, a empresa disse que a VL-47 não tinha qualquer relevância e pretendia reduzir de 250 para apenas 48 metros seu raio de proteção”, destacou a procuradora da República.

No outro caso, a caverna sob ameaça fica na área de implantação do mineroduto Minas-Rio, em Conceição do Mato Dentro, a 175 quilômetros da capital. O Conselho de Política Ambiental de Minas Gerais (Copam) recebeu pedido da empresa exploradora para redução do raio de proteção da cavidade CAI03, de 250 para 100 metros. “Essa caverna, considerada de alta relevância e de rara beleza, tem 396 metros quadrados e está em área coberta por mata atlântica, com ocorrência do lobo-guará e do gato-do-mato-pequeno, espécies em extinção. Além do risco de dano ao patrimônio espeleológico, a diminuição do raio de proteção implica dano ambiental decorrente da supressão da mata", destaca a representante do MP.

Em ambos os casos não foram feitos estudos específicos para determinar as características e relevância das cavidades, porque Minas não dispõe, nos quadros de suas Suprams, de técnicos com formação e conhecimento na área de espeleologia. Com isso, segundo o MP, o estado não tem condições de analisar os estudos técnicos apresentados pelos empreendedores.

O juiz determinou que as licenças somente poderão ser concedidas depois da devida avaliação de cada cavidade por profissional especializado. Se ficar demonstrado que o estado não pode fazê-lo, o Ibama deve assumir os trabalhos.